sábado, 21 de janeiro de 2012

Chapada Diamantina

Com o pé quebrado saí de Itacaré. Não voltei por Ilhéus, primeiro porque eu desceria e me afastaria do meu destino, segundo porque já havia "conhecido" a cidade um dia antes da minha partida, quando fui tentar tirar um raio-x do meu pé quebrado, mas o médico não estava fazendo plantão.
Indo de ambulância para Ilhéus
Que a classe médica é cheia de profissionais trabalhadores, não resta dúvida, mas uma parcela significativa se aproveita do caos da saúde pública para receber sem trabalhar. Gostaria de ver um sistema de ponto eletrônico para monitorar esses vagabundos, mas o governo Brasileiro tem um medo absurdo da classe médica, deles fazerem greve. Tudo culpa do foco. Preferem dar ênfase no doente ao invés da prevenção, os profissionais que podem ajudar na prevenção não precisam da capacitação médica, podem ser profissionais de diversas áreas ou mesmo técnicos. Sem contar que é mais barato.
Devaneios a parte, fui por uma estrada de terra que passa por Tamboquinhas
Tamboquinhas
Não desci na cidade, mas mesmo de passagem fiquei com uma boa impressão do lugar. Às margens do rio de contas (caso eu não esteja enganado), o vilarejo parece que teve um auge na época das fazendas de cacau. Depois de Tamboquinhas fui para Ubaitaba.

A cidade fica na BR 101, o pior lugar para pegar carona na Terra. Na boa, é muito difícil pegar carona nessa BR. Fiquei de manhã até anoitecer tentando pegar carona perto de um quebra-molas, fiquei tanto tempo que a mulher da pousada que ficava perto da onde eu estava passou por mim umas 4 vezes. Quando escureceu ela me ofereceu um lugar pra ficar. Eu tinha dinheiro, mas tem horas que você se propõe gastar o mínimo possível, com o pé quebrado/torcido (não sei direito porque não tirei raio-x, mas ele dói até hoje) meu humor foi para as cucuias, mas o gesto dessa senhora me animou. Fez eu relevar o cachorro dela ter mijado em mim.
Dormi numa cama que ficava numa espécie de corredor-quarto, o medo de levarem minha mochila fez o sono ser o mais leve possível. O local era uma pousada, mas servia mais como motel e eu fiquei bolado.
No outro dia de manhã fui bem cedo para o mesmo quebra-molas, com a mesma placa escrita JEQUIÉ. Com algumas horas parou um carro falando que ia para uma cidade perto de Jequié, não me lembro o nome da cidade agora.
O cara tinha voltado dos EUA e estava indo visitar os pais, acho que morava no Rio. Contou algumas histórias da América do Norte, de uma perda total de um carro que o pai dele tinha dado para ele, dessa coisa de pegar carona, etc. ele dirigia bem e a velocidade era boa. Me deixou na rodovia estadual na saída da cidade, disse que era melhor para eu pegar carona, nos despedimos e ele voltou por onde viemos. Foi um cara muito gentil e uma das poucas caronas que consegui na BR 101.
Peguei outra carona, com um cara mais velho e muito mais lento no volante, me deixou em Jequié, mas me lembro muito pouco dele e do caminho.
Em Jequié almocei em um self-service, acessei a internet e peguei um moto-táxi para o trevo da cidade na BR 116.
Novo trevo, nova placa.
Não sabia direito por onde era o melhor caminho, olhei o mapa e escolhi o caminho mais curto. A cidade seria "Milagres", com esse nome na placa conseguiria uma carona fácil, pensei. Dito e feito. Depois uns 30 minutos um motorista de caminhão bem novo, 1 ou 2 anos mais novo do que eu na época, abriu a porta para me levar para Milagres. Amei a BR 116, pelo menos a parte baiana da mesma (no Paraná em outra viagem eu havia odiado essa BR).
Essa hora é um momento apreensivo tanto para o motorista que cede carona, como para o caroneiro. Não tem como evitar alguns pensamentos mais sinistros. Ele fala do radar de monitoramento, eu falo que sou de Vitória. Ele fala que é do Rio Grande do Sul. Pergunto se é Inter, diz que é Grêmio. Isso me preocupa a princípio, mas o cara é legal.


Conversamos sobre esse lance de pegar e dar carona, a estrada, o caminhão, os carros, os ônibus. Estou pela primeira vez dentro de um caminhão viajando e fico impressionado com o conforto e tecnologia. Não lembro o que ele carregava, mas a carga era pesada, o caminhão, apesar de forte e novo, não desenvolvia muito. Me falou das cidades daquela estrada, lembro que uma tinha o nome da quilometragem. Acho que ele ia para Fortaleza ou Recife.
Chegando em Milagres não desci na cidade, falei para ele que tinha um trevo um pouco depois da saída. Pedi para ficar nele.
Era um lugar no meio do nada e o trevo não era bem um trevo. Era uma entrada para uma estrada de terra.
Eu estava no meio do nada com um pé podre, haviam umas pessoas no mesmo trevo, mas não eram de falar e ficaram intrigadas com minha tentativa de carona. O bar estava fechado o que me levou a crer que o lugar não era nada movimentado. Alguns carros passaram, sem sucesso, mas alguns minutos depois um ônibus desses bem velhinhos parou na encruzilhada e carregou todas as almas que estavam naquele lugar esquecido por Deus.
A paisagem já era totalmente diferente de Tamboquinhas, comecei a entrar no que acredito ser uma parte do sertão da Bahia. Os cactos e a paisagem ampla com alguns platôs era alucinante. As fazendas imensas tinham cercas que muitas vezes cercavam o nada. Eu estava tendo um ótimo dia e a impressão que ia me dar mal naquele trevo ficou totalmente para trás, estava indo par Iaçu e tudo ia dar certo.


Chegando em Iaçu um taxista disse que não havia mais ônibus para Itaberaba e me ofereceu o serviço de transporte para essa cidade por uns 60 ou 90 reais, disse para ele que estava vindo de carona de Ubaitaba e que estava fora da minha realidade pagar isso para ir para qualquer da Terra.
Nessas horas não adianta muito você ter um mapa, por mais que você saiba onde você está, muitas vezes esse conhecimento é apenas uma teoria. Eu estava em Iaçu querendo ir para a Chapada Diamantina, nunca estive tão perto e ao mesmo tempo parecia terrivelmente longe.
O valor do táxi esticava a curta distância.
Conforme ele viu que eu não pagaria disse que um ônibus iria passar em pouco tempo. Aliviado esperei pela salvação do busão que deixou Iaçu para trás.

Itaberaba é uma cidade que eu lembro muito pouco. É grande, mas sem uma arquitetura muito memorável. Cheguei na rodoviária e acho que nem saí de lá. Lembro que tinha uma fábrica de tênis de marca (adidas?), comprei uma passagem para Lençóis que sairia no meio da noite. Não chegaria na cidade a tempo de procurar um camping e bastante cansado, mas qualquer lugar estaria perfeito. Eu estava chegando na chapada.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Itacaré

Itacaré é um enorme complexo de praias lindas, mulheres lindas, ondas, gringos e dreadlocks. Uma energia intensa controla aquele lugar, deixando todos muito excitados. A capoeira que conhecia como um "jogo-dança-diversão" lá, é uma adrenalina brutal a 200 km/h, onde qualquer vacilo é tchau e benção.
Nos primeiros dias fiquei hospedado no mesmo albergue (pharol) que fiquei na época da minha primeira visita, achei que seria legal ficar lá e cozinhar meu rango, mas os gringos dominavam a cozinha e, nao estava com saco para tirar meu inglês das profundezas oceânicas onde ele estava muito bem localizado.
No dormitório além de mim, tinha um israelense brucutu e, um dia depois, um alemão surfista picareta. Isso foi o suficiente para me mudar, Julio e Gabi voltariam no domingo e eu pensava em ir andando para Barra Grande.
Vou ser resumido, pq esse relato está atrasado em 2 anos.

Achei uma pousada barata e fiquei mais alguns dias, cai de uma árvore morta e vi a sola do meu pé (torci sinistramente), tentei engessar, tirar raio-x e tudo mais, mas o sistema público de saúde já é precário, no interior da bahia é precaríssimo. Peguei carona numa ambulância para Ilhéus (depois soube que a mina estava com suspeita de meningite, ou seja por causa de um pé torcido eu poderia ter morrido! hehehe).
Cansado de Itacaré e com o pé quebrado peguei um ônibus para Ubaitaba (?).

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eunápolis

Cheguei na casa de Júlio pela segunda vez e, agora ele já estava morando sozinho, o Marcelo que trabalhava com ele encerrou seu contrato. Era véspera de algum feriado e ele estava planejando ir para Itacaré com a namorada, mesmo conhecendo Itacaré resolvi aproveitar a carona e curtir mais um pouco de praia.

Porto Seguro - Reloaded

Dessa vez na casa dos meus tios em porto seguro só tinha meu tio Áureo presente, tia Beth e Lucas estavam visitando Vitória. Meu tio estava no meio de um grande processo de manutenção na empresa que ele trabalha. Era um procedimento chamado de "parada" e era uma parada (dura) mesmo, sempre chegava tarde e cansado e geralmente tomávamos um vinho e conversavamos até ele pegar no sono. Em Porto fiz mais uma sessão bruta de cinema, assistindo um monte de filmes na sky, eram tantos filmes que no final você não sabe identificar muito o que você viu ou deixou de ver, mas um que vale ser mencionado é o brasileiro Estômago. Muito bom.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Caraíva

5 noites e 6 dias em Caraíva fazem você se desligar um pouco do resto do mundo, meu celular não funcionava e a internet lá custava R$9,00/hora. Ainda assim gastei alguns bons reais alimentando meu vício.
Em Caraíva, ao contrario de trancoso, foi muito mais fácil "fazer amizades". A comunidade era basicamente pesqueira e já havia aprendido um bocado de coisas sobre os pescadores em Regência, sem contar que a pesca é parecida com a de regência porque os peixes são aqueles que vivem no encontro do rio com mar. Por causa das chuvas o rio estava com o volume d'agua lotadão fazendo com que carregasse um monte de matéria orgânica que estava nas margens.
Estou escrevendo sobre dias que estão perto "temporalmente", mas distantes espacialmente. Em Caraíva fiz meu primeiro mês de viagem dançando forró no famoso "forró do pelé" (pelo menos era mencionado numa música), joguei bola com um bando de insanos - com direito a um gol meu e uma defesa de penalti quando estava no gol, conheci índios gente fina e outros pilantrox, fiz um 2x0 no xadrez num brasil vs. argentina no restaurante/bar Lagoa, fiquei acampado por dias com minha mochila e roupas completamente sujas e peguei uma carona para arraial com uma carioca muito psico no volante, a coroa corria alucinadamente na estrada de terra e uma hora quase saiu da pista caindo no atoleiro, para tirar a porra do carro sujei minha última roupa limpa, tinha guardado ela para chegar apresentável na casa dos meus tios em porto seguro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Praia do Espelho - Caraiva

Acordei cedo e pendurei as coisas que molharam com a chuva na madrugada. Não sei se acordei com o barulho da chuva ou com o calor que começava a agitar a barraca, mesmo achando que fiz a escolha certa trazendo a mais velha, menor e mais leve, as vezes sua costura "cansada" não aguenta o tranco da chuva, isso faz das noites chuvosas um exercício de paciência. Nessa noite tudo isso foi irrelevante, estava cansado o suficiente para ignorar a consciência. Havia amanhecido e Seu Pereira ainda não sabia quem eu era, era nítido que havia deixado ele um pouco inquieto, me apresentei bem cedinho para ele que, gentilmente, me ofereceu café. Tudo lá é muito simples, suas duas filhinhas são encantadoras e receptivas, sua esposa distante, mas educada e ele embora desconfiado soube me tratar bem.
Não demorei muito para juntar minhas coisas e pegar a praia, a idéia era chegar na Praia do espelho perto do meio dia. Nenhuma consulta no google earth dessa vez.
Caminhada longa, o maior trecho depois de itaunas - costa dourada. O tempo era medido através das baias que eu atravessava, cruzei várias praias de camburí, umas 5 ou 6 no total. Cheguei na praia de espelho indo de encontro com uma multidão de turistas "de pacote". O estilo era selvagem, largado e meio índio. Encontrei várias pessoas que estavam em Trancoso, mas isso não fez com que nos comunicassemos. Achei um PF barato, depois de descansar e pegar uma praiana encarei a segunda parte da caminhada.
Esse trecho (espelho-caraíva) é o mais rico em minas d'água, em cada baia você encontra uma bica, sejam as perenes ou as constantes. Quando não aguentava mais o rio caraíva se revelou para mim. Jurava que Caraíva era a ponta de Corumbau, se fosse dormiria em qualquer lugar na praia, mas caraíva estava uns 6km antes de Corumbau e consegui chegar la aos trancos e barrancos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Rio dos Frades

Longas praias, topless, índios bêbados de bicicleta, um rio que estava mais cheio que o previsto, isso são coisas que só uma caminhada pela praia pode lhe proporcionar.
Contemplar o mar até que as ondas limpem seus pensamentos ou acender uma fogueira para fazer um rango faz bem a qualquer ser humano. Parece besteira, mas existe uma mística ao acender uma fogueira. Algo que faz a minha satisfação se assemelhar com a de um antepassado muito antigo. Acho que estou muito jack london nessas sensações.
Caminhei de Trancoso até o rio dos frades em três horas e pouco, fiz um rango na margem do rio e um indio meio cigano me levou para a outra margem. Tirei uma preguiça na casa do simpático "seu pereira", quando dois pescadores de trancoso chegaram lá e armaram uma barraca e tiraram um vasto kit de pesca, logo pedi para acampar lá também. Nem tanto porque estava cansado, mas porque além de ser um lugar muito bonito me pouparia para a praia do espelho, curuipe e quem sabe Caraíva. Os pescadores fizeram um baita cozido roots que salvou a janta.
O clima no rio dos frades à noite não é nada religioso, a região não tem luz e parece com aquilo que chamam de zona de instabilidade. Vai ver era paranóia minha... acordei bem cedo e Pereira ofereceu um café fresquinho. Arrumei minhas coisas e fui para praia do espelho, é uma caminhada tranquila e reflexiva.